Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Os Vulneráveis de Sexta Feira

Quarta-feira, 29.03.23

20230228_115627.jpg

Sexta-feira, 24 de Março de 2023. O ministro das Finanças apresenta uma série de medidas rotuladas de apoio às famílias mais vulneráveis – 30 euros por mês ao longo de 2023 – medidas estas que sucedem ao apoio extraordinário de 240 euros para famílias mais vulneráveis de Dezembro passado que por sua vez sucedeu ao apoio de 60 euros atribuído às famílias mais vulneráveis em Julho de 2022 que por sua vez tinha sido antecedido pelo apoio extraordinário para as famílias mais vulneráveis decidido em Março

A cada um deste anúncios sucedem-se horas de comentários sobre a dimensão dos "apoios dados aos mais vulneráveis", expressão que em si mesma dá conta de como algures se trocou em Portugal a esperança de viver melhor por uma espécie de vida assistida, o vulnerabilismo. Sim, entre a concepção assistencialista dos pobrezinhos de Marcelo Rebelo de Sousa e a fé estatista de António Costa de que deitando dinheiro para cima dos problema e das pessoas tudo se resolve, acabámos no vulnerabilismo, essa nova face do assistencialismo-socialista em que o governo não se destaca pela forma como governa mas sim pelo que "dá aos mais vulneráveis".

Mas quem são os "mais vulneráveis"? Em Março de 2022 eram as 762 mil famílias " beneficiárias da tarifa social de eletricidade" que por sua vez era atribuída a quem provasse já receber outros apoios como o complemento solidário para idosos; rendimento social de inserção; prestações de desemprego; abono de família… Em Março de 2023, são mais do dobro: 1,7 milhões de agregados familiares. Mas em Outubro de 2022, a vulnerabilidade chegou a quem ganhava até 2700 euros brutos por mês e graças a essa vulnerabilidade teve direito a um apoio de 125 euros.

Os vulneráveis não são apenas pobres. Os pobres eram pobres porque a sociedade era injusta e os governos maus. Sobretudo, um pobre tinha o direito de não ser pobre. Os vulneráveis ao contrário dos pobres não só nunca se libertam desse estatuto como ele se agrava e alarga a cada novo facto, seja ele bom ou mau. Há também que ter em conta que para cada vulnerabilidade há uma política pública à espera de ser aplicada, um governante com um plano, um activista com a sua causa devidamente patrocinada.

Os pobres podiam aspirar a deixar de ser pobres porque mudavam de trabalho, de sítio, porque emigravam, porque votavam noutros políticos. Já os vulneráveis são como folhas de árvore que a cada reviravolta do vento são atirados para mais longe. Só a bondade de quem detém o poder os protege da hostilidade do mundo. Logo, qualquer mudança, seja de quem governa, seja na sua própria vida, é vista como uma ameaça a essa sequência de apoios que, qual carrossel de dominós, se pode desmoronar se o governo mudar, se mudar de emprego, se mudar de casa.

Os pobres deixavam de ser pobres se o poder mudasse. Os vulneráveis, antes pelo contrário, temem que o poder mude.  Os vulneráveis são o pobrezinho das sextas-feiras dos tempos pretéritos, ou, para quem preferir a versão literária, o pobre da menina Teresinha de uma crónica de Lobo Antunes, com a substancial diferença que a menina Teresinha não se candidatara a governar o país. E aqui chegamos ao outro lado do vulnerabilismo, o de quem governa os vulneráveis.

Quanto mais o governo falha mais aposta na distribuição de apoios aos mais vulneráveis. Afinal é tão mais fácil e popular anunciar transferências automáticas (cuja eficácia ninguém pode questionar porque são para os mais vulneráveis!) do que governar de facto. E, contudo, todos os dias a ineficácia dos governos de António Costa contribui não só para que os vulneráveis fiquem mais vulneráveis (leia-se dependentes de quem governa) como também para a vulnerabilização da sociedade. ( do Observador por Helena Matos, ou em noticias myweb vodafone pt) 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por O apartidário às 16:02





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Março 2023

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031