O populismo é um compagnon de route da democracia que floresce sempre que a democracia falha. Alimenta-se das crises económicas, das disfunções da democracia representativa, dos problemas levantados pela integração de emigrantes e minorias, da desinformação veiculada pelas redes sociais e dos escândalos de corrupção nas elites.

A crise política atual, desencadeada por fortes indícios de corrupção nas formas de conflitos de interesses, compadrio e tráfico de influências, envolvendo a cúpula do governo, e as declarações que se seguiram, de altos responsáveis, revelando faltas à verdade, contradições, jogos táticos e críticas à atuação da justiça, estimulam a polarização social e são um tapete vermelho para o populismo. Os escândalos de corrupção corroboram a visão de uma sociedade dividida entre o povo e uma minoria acima da lei, alimenta o ódio contra as elites, geram sentimentos de injustiça, de desigualdade, de revolta e de desconfiança nas instituições e nas suas lideranças, e abalam as bases da democracia representativa. Aumenta-se, deste modo, a procura social de autoridade, estabilidade, segurança e justiça, o reforço do poder do estado, o regresso aos equilíbrios sociais do passado e aos valores tradicionais. É a resposta que o populismo apresenta.

Ao contrário do que propõe a generalidade das forças políticas, a luta contra os populismos, de esquerda ou de direita, não passa por “cordões sanitários” e “linhas vermelhas” para os isolar, nem por ignorar o voto legítimo dos seus apoiantes. Quem votou nos extremos políticos fê-lo legitimamente. Não pode haver votos nem cidadãos de segunda. A representação parlamentar de todos tem de ser respeitada ou estamos a negar a essência da democracia representativa. A solução não está em combater os efeitos, mas em eliminar as causas. E as causas estão à vista. São a incompetência, a irresponsabilidade, a falta de integridade e de sentido de estado de alguns responsáveis políticos. Quando os resultados das próximas eleições mostrarem um aumento da polarização social e dos populismos, dificultando os consensos e a governabilidade, só têm de se queixar de si próprios.