Terça-feira, 04.11.25
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Sexta-feira, 31.10.25
A oligarquia precisa de três Venturas?
A oligarquia política parece que precisa de três Venturas, porque um só Ventura já não chega para disfarçar a falta de visão, a falta de ideias, e até a falta de bom senso de que os oligarcas sofrem.
31 out. 2025, 00:22 no Observador
Estas eleições presidenciais são as primeiras desde 1995 em que não há, à partida, um vencedor previsível, e as segundas, na história do regime, em que poderá haver uma segunda volta. Infelizmente, nada disso tem chegado para as tornar interessantes. Porque os principais candidatos parecem ter decidido, de modo concertado, reduzi-las a uma repetição de cenas já vistas. É assim: primeiro, André Ventura faz o que os sábios do regime nos explicam ser uma “provocação”, calculada para provocar reacções histéricas e colocar-se no centro das conversas; depois, os outros candidatos reagem histericamente à “provocação” e colocam André Ventura no centro das conversas.
Como interpretar isto? A primeira hipótese é que os outros candidatos não ouvem os seus próprios sábios ou, ouvindo-os, são estúpidos. A segunda hipótese é que não é só André Ventura que está interessado em ser o tema das conversas. Também aos restantes candidatos interessa que André Ventura seja o tema das conversas. O motivo deve ser o mesmo em ambos os lados. André Ventura pensa que ganha votos se os outros falarem dele. Os outros pensam que ganham votos se falarem de André Ventura.
André Ventura faz o que lhe convém, mas os outros nem tanto. Por duas razões. Primeiro, porque este anti-venturismo primário sugere que não acreditam ter melhor argumento para levar os eleitores a votarem neles a não ser assustá-los com a tese de que Hitler não morreu, mas está vivo, mudou-se para Lisboa como qualquer reformado do norte da Europa, e adoptou o nome de André Ventura. Não lhes ocorre mais nada, no Portugal do ano de 2025, senão convidar-nos a fingir, com muitos arrebatamentos de teatro antigo, que estamos na Alemanha de Weimar em 1933?
Segundo, porque neste jogo em que todos parecem ganhar, Ventura ganha muito mais do que eles. É que através das suas “provocações”, Ventura fala de problemas. Há quem possa lamentar o estilo, mas pouca gente deixa de reconhecer que a imigração descontrolada ou a insegurança são problemas. Ao atacarem Ventura, os anti-Venturas não se limitam a deplorar-lhe o estilo: tendem, por uma lógica fatal, a negar os problemas. É assim que os vemos a pedir ainda mais imigração. Acreditam mesmo que a salvação do país está no caos migratório? Estão assim tão apostados em fazer André Ventura parecer o único candidato consciente do que se passa e suficientemente corajoso para o dizer?
Luís Marques Mendes e Henrique Gouveia e Melo foram os mais desesperados compères de André Ventura na última rábula dos Salazares e dos cartazes. Que se passa? Não compreendem que este anti-fascismo de papelão apenas os está a pôr ao nível pobre dos candidatos da agonia comunista, Catarina Martins e António Filipe? Ventura disse que o país precisa de três Salazares. A oligarquia política parece que precisa de três Venturas, porque um só Ventura já não chega para disfarçar a falta de visão, a falta de ideias, e até a falta de bom senso de que os oligarcas tão manifestamente sofrem. Lembram-se do poema de Kaváfis sobre os bárbaros? Pergunto apenas: que seria do regime sem Ventura?
Mas não quero acabar numa nota tão céptica. Talvez um dos candidatos perceba que o país está a começar a ficar farto de anti-Venturas de pacotilha, sempre a descobrirem Hitleres por todo o lado. Ou por outras palavras: talvez um dos candidatos compreenda, finalmente, que o país está disponível para apreciar alguém que mostre a sensatez que convém a um presidente da república, sem pantomimas de antifascismo, e consiga falar dos problemas do país em vez de simplesmente os negar. Será esperar demais?
Rui Ramos no Observador
https://observador.pt/opiniao/a-oligarquia-precisa-de-tres-venturas/
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Domingo, 26.10.25
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Quinta-feira, 23.10.25
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publicado por O apartidário às 09:59
Quinta-feira, 16.10.25

Tomem nota (director nacional da PSP falou e disse que "são casos isolados" e que o Estado de direito continua funcionar,isto após crimes graves em Julho/ Agosto)
https://youtube.com/shorts/uVevJenPVIs?si=gAIdFfDJ85W9u1Qs
Mais assunto sobre insegurança e "casos isolados" a granel(agora em Outubro) na caixa de comentários deste post chonéfobo como o catano.
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Domingo, 12.10.25
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Sábado, 04.10.25
Mudam-se os tempos, mudam-se os partidos
Que admira que as pessoas abandonem os velhos partidos, quando esses velhos partidos as abandonaram a elas, destruindo as suas expectativas e comprometendo os seus valores?
03 out. 2025, 00:22 no Observador
Sondagens de opinião em Inglaterra, França, Alemanha e Portugal colocam os partidos da direita nacionalista como primeira opção de voto. Em Itália, já governam. Alguns desses partidos não existiam há um década. Outros pareciam destinados a vegetar nas margens da política. Excepto no caso de Itália, onde há trinta anos que as organizações políticas têm estado sempre a transformar-se, é a maior evolução dos sistemas partidários da Europa ocidental desde há muito tempo. No caso da Inglaterra, desde a I Guerra Mundial.
É isto difícil de entender? Não é, quando pensamos no que os tradicionais partidos de governo das democracias da Europa ocidental têm para mostrar aos que confiaram neles. Quais foram as duas maiores promessas desses partidos? Convergência com o país mais rico do mundo, e coesão social. Foi por isso que os europeus votaram, foi isso que lhes disseram que poderiam esperar. E foi essa, em geral, a experiência dos que viveram na segunda metade do século XX. Que aconteceu nos últimos anos? Demagogias despesistas, delírios regulatórios e ideologias energéticas sobrecarregaram as economias da Europa ocidental. O resultado foi uma grande divergência em relação aos EUA. O PIB médio da Europa ocidental é hoje cerca de 64% do americano. Trata-se do nível mais baixo de riqueza em relação aos EUA desde a década de 1970. A França, a Inglaterra, a Itália e a Espanha são actualmente mais pobres do que o mais pobre estado dos EUA, o Mississipi.
No caso da coesão social, a história é pior. No pós-guerra, houve migrações dentro da Europa, mas os migrantes, de culturas similares, nunca foram demasiados e fizeram tudo para se integrar: por exemplo, os portugueses em França. As sociedades europeias conservaram a sua coesão. Foi essa coesão que os governos decidiram sujeitar a um duplo teste: a abolição de fronteiras com o resto do mundo, e a dispensa, em nome do multiculturalismo, de qualquer esforço de integração. Redes de tráfico humano constituíram-se logo na África e na Ásia para explorar a imprevidência europeia. A Europa tem adquirido assim uma enorme e crescente massa de pobres pouco qualificados, muitos deles permeáveis a movimentos político-religiosos hostis aos valores europeus. A segurança de sociedades coesas era uma das grandes aquisições civilizacionais da Europa e um dos alicerces das suas democracias e Estados sociais. Tudo está agora em causa.
Perante tais erros e fracassos, que fizeram os partidos de governo? Mudaram de políticas? Não: trataram apenas de calar qualquer debate público. Foi assim que deram curso oficial ao wokismo da extrema-esquerda, de modo a usar os seus termos de demonização contra críticos e descrentes. Quem falava de divergência económica, era “neo-liberal”. Quem aludia ao caos migratório e multi-cultural, era “racista”. E não foram só as esquerdas. Foram também as direitas oficiais, assustadas com a concorrência das direitas nacionalistas ou liberais. A pretexto do “discurso de ódio”, há agora delito de opinião. Através de “leis de memória”, a história passou a ser ditada pelos governos, como na velha União Soviética. A Europa ocidental tornou-se menos livre.
Que admira que as pessoas abandonem os velhos partidos, quando esses velhos partidos as abandonaram a elas, destruindo as suas expectativas e comprometendo os seus valores? Não foram os “fascistas” dos anos 1930 que regressaram, como diz a falta de imaginação dos activistas da extrema-esquerda das universidades. São os cidadãos europeus que decidiram renovar as suas elites políticas. Era uma das coisas que as democracias costumavam permitir que acontecesse pacificamente. Esperemos que pelo menos isso não mude.
Rui Ramos no Observador
https://observador.pt/opiniao/mudam-se-os-tempos-mudam-se-os-partidos/
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Quinta-feira, 02.10.25
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Quarta-feira, 06.08.25

«Estes homens públicos portugueses metem raiva e dó ao mesmo tempo. É que são simultaneamente ridículos e ternos como arlequins.»
Diário XII, de Miguel Torga

A jurisprudência da ignomínia
A maioria de juízes conselheiros esticou-se e retorceu-se, deu piruetas e saltos mortais, para garantir um resultado político. O objetivo era claro: embaraçar e humilhar o Governo.
10 ago. 2025, 01:00 no Observador
"Foi com honras de conferência de imprensa, aparentemente reservada para momentos de significado político particular de que só algumas votações se podem revestir, que o colégio de juízes conselheiros do Tribunal Constitucional anunciou ao País o seu essencial acordo com as queixas do Presidente da República no que toca às mudanças na chamada “lei dos estrangeiros”. Com um presidente do TC menos exuberante e mais contido do que no passado, a encenação repetiu, no entanto, um alinhamento que o País já conheceu. Uns dias antes, num gesto que o define, o PR proclamara que a atual maioria seria “julgada” por isto. Ele esqueceu-se de que o julgamento político, quando nasce, nasce para todos – para ele inclusivamente. Desse julgamento, ainda que já não eleitoral, ele também não se livra.
Previsivelmente, o TC, em aliança mais ou menos tácita com o PR, resolveu abrir uma guerra contra o Governo e iniciar a resistência ao fascismo a partir das trincheiras abertas no Palácio Ratton. O assunto em mãos parecia proporcionar o guião com que as esquerdas em frangalhos, na sua imaginação essencialmente maniqueísta, gostam de sonhar: a humanidade contra a crueldade; a boa consciência da esquerda contra a opressão das direitas.
Com maiorias variáveis nas diferentes votações, o TC mostrou no acórdão que, no essencial, ainda que não inteiramente, concordou com as acusações do PR. Não digo “dúvidas”, nem “suspeitas”. Digo acusações de desconformidade com a Constituição porque Marcelo, co-patrocinador político do estado a que as coisas chegaram em Portugal em matéria de migrações, pretende derrotar politicamente o Governo neste assunto. Anulado o poder de ameaçar o governo com dissoluções da AR, Marcelo arrastar-se-á até ao final do seu mandato para conservar estas relíquias do governo de Costa, sem glória pessoal, nem proveito nacional. Erro dele que julga que ainda está em 2016."
Miguel Morgado no Observador (artigo completo no link a seguir)
https://observador.pt/opiniao/a-jurisprudencia-da-ignominia
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Sábado, 26.07.25
Os papagaios que dão a mão
Impõem-se duas perguntas. Porque é que os “media” não investigam a origem da propaganda pessimamente disfarçada de opinião? E porque é que convidam criaturas cuja opinião é propaganda escancarada?
O desastre nas urnas, a oposição forçada e um futuro nebuloso provocam desnortes espectaculares. A cada semana, a esquerda inventa uma polémica. Na que agora acaba, foram as alterações na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Na anterior, as barracas de Loures. Na anterior a essa, a Lei da Nacionalidade e a relação do governo com o Chega. É possível que a próxima polémica, que já se esboça, seja a nomeação de Álvaro Santos Pereira para governador do Banco de Portugal. Ou outra que se ponha a jeito, que a esquerda é óptima a simular escândalos.
Talvez por serem simulados, a característica mais evidente e engraçada dos escândalos é a reacção invariavelmente unânime dos comentadores ao serviço da esquerda, incluindo muitos dos que se afirmam de “direita”. Falo dos políticos que, por razões que escapam ao bom senso, são chamados a comentar a actualidade, de profissionais do palpite que em teoria (mas não na prática) vão às televisões e aos jornais comentar com “isenção” e de meros amadores espalhados pelas redes sociais. O ponto é que todos, sem excepção, dizem exactamente as mesmas coisas sobre os mesmos assuntos. É quase fascinante. E é para lá de ridículo.
A título de exemplo, veja-se o episódio da Cidadania. Com atraso e timidez, o governo anunciou a eliminação de parte (parece que apenas de parte) das crendices “identitárias” dos currículos na disciplina em questão. Num ápice, avençados e voluntários da esquerda saltaram a repetir o carácter retrógrado da medida. Retrógrado e fascista. Fascista e prejudicial: a medida iria promover o “bullying” (?), aumentar a gravidez na adolescência, a violência no namoro, a quantidade de abortos, a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, a ignorância dos jovens e a fome em Gaza.
A fome em Gaza fui eu que acrescentei para exibir virtude humanitária e a dose de “anti-sionismo” recomendada pela ONU. O resto é inteirinho da autoria daquela gente, que sem excepção enumerou alínea por alínea, sílaba a sílaba, os cataclismos inspirados pela remoção do “wokismo” nas escolas. Sucede que é tudo mentira. Nos seis ou sete anos em que o ensino público esteve forçado a informar os petizes de que o sexo biológico é uma “construção social”, o “bullying” (que, seja o que for, vinha em declínio até 2018), a violência no namoro e as doenças sexualmente transmissíveis difundiram-se com empenho. Os demais items ou mantiveram-se imperturbáveis ou, na gravidez das raparigas (os rapazes, para desmaio dos negacionistas da ciência, não menstruam), vêm diminuindo há décadas.
Em suma, na melhor das hipóteses os “conteúdos” folclóricos da Cidadania não tiveram nenhuma influência nos alunos, logo a sua ausência não poderá ter as consequências terríveis que o “komentariado” da esquerda garante. Na pior das hipóteses, o folclore foi nocivo e a sua ausência será benéfica. Em qualquer dos casos, ao prever o Apocalipse o “komentariado” da esquerda mentiu. Mentiu ou enganou-se, não importa. O que importa é que mentiu ou se enganou em uníssono e perfeita harmonia. Os factos estatísticos estão por aí, ao alcance de quem quiser consultá-los. No tema da Cidadania, à semelhança do chinfrim que produz a pretexto dos temas que calha, o “komentariado” não se deixa tolher por factos e não consulta estatísticas. O que é que o “komentariado” consulta então?
A sincronia entre centenas de opinadores não é fácil. E se é legítimo imaginar que, além dos “bots” e das páginas falsas, as patentes baixas de serviçais se limitam a espreitar o que os seus superiores proclamam para imitá-los de seguida, não é plausível tamanho consenso no disparate por parte dos que têm voz nos “media”. Seria plausível se os disparates fossem sortidos e mutuamente contraditórios. Não são. São sempre idênticos, tão idênticos e afinados que exigem combinação prévia. Suponho que meia-dúzia de “grupos” no WhatsApp são indispensáveis ao exercício. Antes da intervenção na Sic Notícias ou de amanhar a crónica no “Expresso”, o opinador vai ao telemóvel perscrutar a opinião dos pares de modo a perceber qual é a opinião dele. Assegurado de que a demolição das barracas é um acto racista e xenófobo e de que a nomeação de Álvaro Santos Pereira se inscreve num projecto de conquista do aparelho estatal, o opinador entra em estúdio ou debruça-se no teclado do computador com teses claras, alucinadas e iguaizinhas às dos parceiros.
O problema é que nada costuma nascer espontaneamente, como se acreditava sobre as bichezas na era pré-Pasteur. Os consensos também não nascem assim. Sou capaz de apostar, e de ganhar a aposta, de que há alguém ou um conjunto de alguéns a decidir qual a “narrativa” (peço imensa desculpa pelo uso da palavra no contexto em causa, em que sofre de estafa e suscita-me repulsa) a adoptar. A “narrativa” (sinto um princípio de náusea) não cai do céu: cai decerto de uma sede partidária, de uma “agência de comunicação”, de uma ou cinco cabeças contratadas para conceber as patranhas ditadas nos “grupos” de WhatsApp ou em mesas de restaurantes. E os papagaios, agradecidos, engolem-nas.
Impõem-se duas perguntas. Porque é que os “media” não investigam a origem da propaganda pessimamente disfarçada de opinião? E porque é que os “media” convidam criaturas cuja opinião é propaganda escancarada? A resposta a ambas é comum, óbvia e, julgo, conhecida de todos.
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publicado por O apartidário às 08:06